quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Para sair do faz - de - conta

A pesquisa sobre o estado da arte da Comunicação Interna Brasileira que a Aberje realizou durante o segundo semestre de 2002, com 100 estreladas empresas brasileiras, que juntas faturaram, em 2001, mais de 170 bilhões de dólares e empregam aproximadamente 800 mil pessoas, mostrou que existe, entre os responsáveis pela comunicação das empresas, uma grande insatisfação com a comunicação interna. Para 71% dos pesquisados, a comunicação interna atende parcialmente às necessidades das empresas.
Os gestores, apesar das boas intenções, esforços, gente e investimento, começam a concluir que a comunicação interna é mais do que a constelação de mídias que, segundo a pesquisa, ainda são os grandes suportes de relacionamento com os empregados. Essa constatação de que o processo de comunicação é muito mais do que simplesmente um canal se aplica às publicações tradicionais e também aos veículos eletrônicos e aos meios on-line, entre eles o e-mail e a intranet. De acordo com os resultados da pesquisa da Aberje, é possível inferir que a comunicação interna, feita no Brasil segue um modelo que tem ênfase na informação, sistema em que os empregados são brindados, o tempo todo, com pacotes de temas de interesse quase exclusico dos administradores. A linguagem oficial, de perfil descendente, se disfarça de moderna, no caso das publicações, no design gráfico. Nos vídeos e nas webs internas o que predomina e a voz de quem manda. Nessa lógica informativa, os empregados não têm espaço ou tempo para transformar informação em conhecimento. Em empresas que não querem ouvir, é impossível para o trabalhador transformar os signos da empresa em autodescoberta e autoconhecimento. O que se vê é quase sempre uma comunicação interna feita com objetivos quantitativos em detrimento da inteligência e da participação.
Mas como as empresas podem superar esse modelo, que rói a boa prática da comunicação interna?
Hoje, o tempo, no âmbito das empresas, é exclusivamente o da produção. Todo minuto precisa ter como correspondente algum produto, pedido ou serviço. Brincar, conversar, dialogar, debater, aprender, dividir e compartilhar não são os verbos da empresa, cuja administração e arquitetura são estruturadas apenas para somar. Nessa perspectiva de produção e de tempo mecanista, coercitivo, homogêneo e sem surpresas, o verdadeiro processo comunicativo, que é um jogo democrático, em que todos trocam de papéis, o tempo todo, não tem lugar.
A comunicação interna excelente só acontece em empresas que tenham uma perspectiva humanista. Empresas que unem o olhar quantitativo ao qualitativo. A boa comunicação interna só é possível em empresas em que o trabalho não seja o fim, mas seja um meio para o crescimento dos indivíduos que a compõem.
O "vestir a camisa" não pode ser uma metáfora sinistra que anuncia o desaparecimento do empregado.
Os processos de comunicação devem se assentar fortemente no diálogo e nos fluxos de informações ascendentes (não confundir isso com "caixinhas de sugestões" e horizontais (laterais). Processos que sejam reflexos de uma cultura de participação e de lideranças democráticas, que promovam os trabalhadores de espectadores e agentes desses processos.
Do contrário, continuaremos assistindo a um pequeno teatro organizacional, em que todos fingem não ver que a comunicação é uma mentira.
Fonte: Nassar Paulo, Tudo é comunicação

2 comentários:

  1. Má,
    mto bom o texto!
    Concordo sim que mtas vezes a comunicação interna não supre todas as necessidades das empresas. De nada adianta o domínio das técnicas se não houver preocupação com os funcionários, por meio de dialógos transparentes que contribuam com o crescimento geral.
    Precisamos fazer uma reflexão em cima disso, para reforçarmos nossos real papel como RPS diante das empresas.

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  2. Má, parabéns pelo blog!
    Estou adorando!
    Adorei o tecto. Os funcionários não são máquinas. Há a necessidade de crescimento do empregado, mas respeitando seus limtes. A imagem que eles tem da empresa é muito importante, essa é a base da imagem externa.

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